dia 28: quando o amor romântico parece um fenômeno inexplicável
observações sobre um coração partido
em 2023, eu fiquei com um garoto que trabalhava numa editora de livros infantis. foi um romance breve, com a trilha sonora da the eras tour e em torno de dois ou três dates, muitas conversas no whatsapp, áudios e um livro de presente.
foi ele que me avisou que meu show seria cancelado (postaram na choquei antes de soltar nos auto falantes do estádio) e, quando finalmente escutei enchanted ao vivo — uma grande homenagem a mariana de 10 anos —, ele me enviou, coincidentemente, uma mensagem que dizia para eu não me preocupar, só curtir ali o momento, porque ele não ia sumir.
fast forward algumas semanas: ele me manda mensagem detalhando seu final de semana, para que, antes mesmo que eu o convidasse para fazer algo, eu soubesse que ele não teria tempo para mim.
eu não sou do tipo que segura a língua. na verdade, para uma libriana, sou muito pouco diplomática nos meus relacionamentos. gosto das coisas claras e fico completamente perturbada quando estou incomodada com alguma coisa: acho impossível “empurrar as coisas com a barriga”.
depois de mais ou menos 10 anos de terapia, consigo comunicar meus sentimentos de forma clara e relativamente direta (meu bloco de notas infelizmente já viu mais de um “coisas que eu quero falar para [insira nome de menino]”).
eu ainda morro de medo de fazer isso. confrontar um ficante — muitas vezes para exigir o mínimo — faz meu coração bater mais forte que descer uma cachoeira de quase 100 metros de rapel (fato comprovado durante minha última viagem, para a chapada diamantina). tenho palpitações, tremedeira e meus dedos ficam gelados.
mas, eu vou lá e falo mesmo assim.
então, quando aquele garoto fofo, de 1,60m, que odiava meus chicletes de menta e usava uma carteira do hot wheels, me reportou seus planos para o final de semana de forma tão burocrática e fria, falei algo como: “eu não quero que se relacionar comigo tenha essa pegada TRABALHISTA.”
disse que não precisava que ele “batesse ponto” comigo, justificasse seus momentos sozinho ou escondesse suas vontades de mim. disse que queria viver coisas divertidas e que a gente podia viver algo leve, se ele quisesse.
eu não estava cobrando mais encontros, mas também não queria prosseguir em um relacionamento muito-muito-muito on-line (minhas amigas o chamavam de meu web ficante, apesar de morarmos a menos de 1km de distância).
isso foi o suficiente para terminarmos.
ele me disse que não estava preparado para um relacionamento comigo. não que eu não fosse divertida ou estivesse exigindo demais dele. ele só não tinha a disponibilidade. as horas. algo sobre amigos, jogos de tabuleiro, seu irmão gêmeo.
no dia dos namorados desse ano, ele postou uma homenagem a sua nova namorada e, nas palavras de taylor swift: your new girl is my clone.
calma, calma, calma. não solta minha mão ainda.
eu sei que a escolha dele não tem nada a ver com três dates que ele teve em 2023.
a questão aqui é que, de praxe, eu costumo tentar encontrar razões em mim para meus relacionamentos falidos. é a cor do meu cabelo, meu jeito de me vestir, meu peso, a aparência do meu corpo, minha personalidade… que seja, de uma forma ou de outra, a culpa precisa ser minha.
de tempos em tempos, porém, eles (não apenas meu web ficante da editora infantil) aparecem com garotas parecidas comigo, que poderiam ser minhas amigas e participar dos meus grupos de whatsapp.
é uma experiência dissociativa — reforçadora e angustiante ao mesmo tempo.
talvez eu seja o tipo dos carinhas que são meu tipo. ufa, um alívio. talvez os deuses cósmicos do romance não me odeiem tanto assim. talvez eu sempre vá encontrar um homem de cabelo escuro, nariz grande, 1,60m a 1,75m e inclinações artísticas para chamar temporariamente de meu.
mesmo que, por algum motivo, eles nunca pareçam estar prontos quando eu os encontro.
seria mais simples se eu pudesse encontrar em mim a razão do abandono. sentir que tenho algum controle da situação e não que sou apenas uma vítima de homens emocionalmente indisponíveis.
é difícil para caramba não pensar: “quando vai ser a minha vez?”
quando eu vou ser a garota nos carrosséis do instagram? quando eu vou ser o amor da vida, o encontro de almas, a peça que faltava no quebra cabeça, a outra metade da laranja, o pé cansado pro chinelo velho?
e será mesmo que tem alguém por aí me procurando também?
será que todo mundo tem a sua vez? e por que nunca é a minha?
ou será que alguns de nós, mesmo cheios de amor pra dar, simplesmente não nascemos pra isso?
deve ser culpa do meu pai, que tatuou sísifo quando eu nasci.
esse último coração partido me lembrou muito do meu primeiro. tenho tentado me reconectar com as coisas que me tornam a mesma menina que teve sua primeira desilusão amorosa causada por um veterano da faculdade, no primeiro ano, no primeiro semestre.
somos exatamente a mesma pessoa, separadas por 10 anos, muitas camas, muitos drinks diferentes nos mesmos bares. temos inseguranças parecidas, mas lidamos com elas de formas diferentes.
o que ela pensaria dele? do que vivemos?
ela preferiria não ter passado por nada disso? preferiria saber que tentou ainda mais? estaria fazendo simpatia, tomando banho de rosas e guardando seu nome embaixo do travesseiro? ainda estaria sonhando?
sinto que o amor me calejou. que tentei demais e parei de acreditar.
sinto culpa e angústia quando me deparo com o fato de que talvez ele tenha sido meu último beijo por algum tempo. que, talvez, depois de tanto cair e levantar, depois de tanto tentar e falhar no amor… eu precise de um tempo.
é assustador e me sinto um pouco constrangida, como se estivesse perdendo uma corrida para a qual treinei minha vida toda só porque o despertador não tocou. vozes imaginárias me questionam quando eu vou transar com outra pessoa, me dizem rindo que coração partido se conserta com porra.
a cada dia que passa, sinto menos a falta dele. porém, a cada dia que passa, também me percebo mais distante de mim. não sei para onde vou ou o que fazer com a ausência e o desejo que sinto.
estamos a quase um mês de distância do nosso fim, mas sinto que meu caminho está só começando.
coisas que fiz por mim:
continuei fora do instagram
fiz todos os meus exames
fui à exposição do monet
descobri uma lesão no endométrio
(nada divertido, mas bem importante)
missões para a semana:
cortar o cabelo
hidratar minhas cutículas
recomeçar meu junk journal
continuar a nadar e escrever